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É assustadora a degradação política que está acontecendo no Rio de Janeiro, onde a corrupção dá sinais de haver se assenhorado do Estado, ao ponto de os marginais terem se infiltrado nas instituições, não se sabendo mais quem está ao lado da lei ou das milícias. O jornalista Lauro Quadros, nos tempos em que comentava futebol, dizia que o "Rio de Janeiro é o tambor do Brasil", no sentido de que lá, tudo que acontece reverbera, tem visibilidade, repercute. Pois o que está acontecendo no Rio de Janeiro é a exposição pornográfica de práticas políticas que estão espalhadas, em menor proporção, por todo o país.
Como o Rio chegou a esta situação de ter tantos ex-governadores acusados e presos? Por que elegeu um azarão, que parece seguir o caminho dos anteriores?
Em nenhum outro lugar do país a divisão social é tão visível e tensa como no Rio de Janeiro, onde a ostentação faz vizinhança com a total escassez das comunidades pobres, onde o Estado não garante qualquer recurso. As comunidades, antes chamadas favelas, vivem um mundo à parte, entregues à própria sorte, assistindo de suas "lajes" o modo de viver do carioca que é morador à beira-mar.
O jogo do bicho dominou as favelas. O bicheiro fazia e cobrava por aquilo que o Estado não atendia. O jogo perdeu terreno para a droga. Hoje é a milícia que oprime com uma mão e dá benesses com a outra.
O eleitor carioca não sabe mais se a autoridade está a favor do Estado ou a serviço de organizações criminosas.
Além do que, as comunidades são de pessoas carentes, que lutam pela sobrevivência diária. Quem está preocupado com a o que terá para jantar não consegue tempo e disposição para preocupações com a ética política.
Pessoas voltadas para a própria sobrevivência, oprimidos socialmente, tendem ficar focados no dia a dia, no que é necessário para sobreviver, sem forças para reivindicar mudanças e, além disto, temerosos de que a mudança, se vier, poderá piorar as coisas.
O Rio de Janeiro não é caso isolado. Nossa estrutura política apresenta vária fraturas. Ocorre que no Rio de Janeiro a fratura é exposta.
Já acreditamos que a solução fosse simples. Especialmente no Rio, onde os últimos ex-governadores estão ou já estiveram presos, acreditou-se que o discurso moralizador e punitivista de um azarão resolveria o problema. Não resolveu, ao contrário, agudizou as práticas de apropriação do Estado por organizações criminosas.
A política está em crise e, com ela, a democracia.
Embora estejamos vivendo as agruras desta crise, não se pode negar que este fenômeno tem contexto mundial e, assim como o Rio de Janeiro está para o Brasil, nosso país está para o mundo, a uma exposição do que há de pior na degradação da política.
Apesar de tudo, deverá vir tempo melhor.
A questão é, quanto ainda iremos cavar este poço?
Neste ano renasce um fio de esperança, teremos eleições.